Fomos (muito bem) recebidos no salão
nobre do edifício dos Paços do
Concelho da Câmara de Castelo de Vide.
E tivemos oportunidade de conhecer o
outro lado do presidente. Não falámos
sobre o orçamento da Câmara, nem de
questões políticas. Foi uma conversa
descontraída, com perguntas e
respostas que não estamos habituados a
ler num jornal. E o resultado aqui está:
ficámos a conhecer melhor a pessoa por
trás do presidente.
O Saltitão - O que gosta de fazer nos
seus tempos livres?
António Pita - Ui… eu tenho poucos
tempos livres. O meu prazer enorme,
quando tenho tempo livre, é estar com
os amigos, de forma mais descontraída.
Durante o dia, vivo com tantos
problemas, tantos assuntos, que quando
saio da Câmara Municipal o meu maior
prazer é valorizar esse tempo com os
meus amigos. Depois, gosto muito de
ler. Tenho uma boa biblioteca e um dos
prazeres que tenho é a leitura. E ouvir música. Vocês também gostam de
música? Ah! Também gosto muito de
viajar.
Qual é o seu maior medo?
Eu tenho muitas preocupações. O meu
maior medo... É uma pergunta difícil!...
Tenho preocupações com o bem estar dos
nossos concidadãos, com o desemprego,
com a saúde, a minha e a das outras
pessoas. Essas são preocupações. Medos,
medos, sinceramente não tenho. Essas são
as preocupações maiores que tenho com
os outros. Comigo, talvez o medo é perder
a saúde e não ter capacidade para as
minhas realizações.
O que gostaria de ler no nosso jornal?
As vossas preocupações com o sítio onde
vivem, com a nossa terra. Aquilo que vocês
pensam que está bem. Nós muitas vezes
só falamos do que está mal, mas também
temos que valorizar aquilo que está bem.
Quando eu era um pouco mais velho do
que vocês, tinha 13 ou 14, estudava em
Portalegre, no Liceu, e ficava muito feliz
naquele tempo, por viver numa terra que
estava mais desenvolvida do que outras. Quando falava com outros meninos, de
outros municípios, eu era de facto um
sortudo, estava numa terra onde tinha
espaços desportivos, piscinas de água
quente, bons equipamentos e
infraestruturas desportivas, culturais...
Gostaria de ler no vosso jornal, o que vocês
não têm e gostariam de ter, valorizando
aquilo que têm.
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DESENHO DE MARIANA MILHANO |
Quando era pequeno, o que queria ser
quando fosse grande?
Olha, eu gostava de ser o Indiana Jones.
Todos conhecem o Indiana Jones? Ele tem
vários filmes, é um arqueólogo, historiador,
aventureiro... Ele marcou-me muito porque
quando eu era adolescente adorava livros
de aventuras e policiais. Tive a sorte de a
C.M. formar um grupo de arqueologia, com
jovens que aqui viviam. Castelo de Vide
tem um grande património. Então, eu e
alguns amigos, pensámos que íamos ter
um papel muito importante em descobrir,
valorizar, conservar toda esta história. Vão
visitar a secção de arqueologia que existe
há 40 e tal anos e conheçam esta história.
Depois estudei arqueologia e só não acabei
o curso porque a vida me levou por outros
rumos... Fui militar durante muitos anos,
gostava da vida militar, fui oficial do
exército. Entretanto a vida trouxe-me aqui,
mas é a minha área preferida: história e
arqueologia.
Quantos anos tem?
Isso é uma pergunta que não se faz!...
Tenho 57. Nasci num dia muito importante,
que vocês vão estudar mais tarde. Nasci no
dia 14 de Agosto, dia da Batalha de
Aljubarrota. Só que não nasci em 1383,
nasci em 1963. Estou a ficar velhote. Sou do
século passado!
Tem filhos?
Tenho um filho, giraço! É o António Pedro.
Vive em Lisboa, vem cá de vez em quando.
E é muito bonito, como a mãe.
Qual é a sua coisa favorita em todo o
mundo?
Em todo o mundo?! É uma pergunta difícil
porque não pode só existir uma coisa
favorita. Felizmente a vida traz-nos coisas
tão boas! O Sol, a Lua, as estações do ano,
as pessoas, os animais, a montanha... O
mundo tem coisas tão boas, desde logo a
natureza e as pessoas, que às vezes
esquecem que fazem parte da
biodiversidade, fazem parte da natureza. Eu escolhia, precisamente, as
pessoas e a natureza como - se assim se
pode dizer - as coisas preferidas.
Qual é a sua comida favorita?
A minha comida favorita é a cozinha
tradicional portuguesa. Adoro!
E gosto muito de cozinhar.
Gosta da sua profissão?
Gosto muito da minha função, tenho
muita responsabilidade. O que eu estou a
fazer não é uma profissão, estou numa
missão. Adoro a minha missão e sinto-me
privilegiado por poder fazer algo de que
gosto muito.
O que pensa da COVID-19?
Uma tragédia! Apesar de, às vezes,
ouvirmos pessoas a dizer que a COVID-19
traz coisas boas, que é uma janela de
oportunidade, que há regiões que hão-de
ganhar com esta situação, não sou nada a
favor dessa opinião. Tudo aquilo que é
trágico e que mata pessoas nunca pode
ser uma coisa boa! É uma doença que,
infelizmente, está a matar muitas pessoas
e como é uma pandemia, está a afetar
todo o mundo. O que nós queremos é que
a ciência e a medicina possam resolver
este problema o mais rapidamente
possível, para nós podermos entrar
novamente na normalidade, que é
estarmos todos juntos, abraçar os nossos
amigos, estar com o avô, com a avó, com
toda a gente, sem máscara... Certamente
vamos ter que esperar mais algum tempo,
mas vamos conseguir.
Viveu no tempo da Peste Negra?
Não... (sorriso) Nós hoje estamos com esta
doença, que está em todo o mundo e falase muito em quarentena. A palavra
quarentena vem de onde? Quarenta. Foi
um termo que apareceu nesses tempos
da Peste. No final da Idade Média, durante
os Descobrimentos, as pessoas que
viajavam muitas vezes transportavam a
doença. Por exemplo, Veneza era um sítio
de negócios, de cultura, e para chegar lá
ia-se de barco; os quarenta dias eram os
dias que as embarcações, antes de
chegarem a Veneza, tinham de esperar
antes de entrarem na cidade para se saber
que não levavam doentes. Eu não vivi no
tempo da Peste Negra porque foi há 600
anos.
Gosta de música Pop?
Pop? A música faz com que as pessoas
sejam melhores. Castelo de Vide
felizmente, tem duas bandas de música. Há meninos e meninas da vossa idade
que aprendem lá música e quando temos
espetáculos musicais isso desperta-nos
para o mundo, somos mais ricos. E nós, à
medida que vamos crescendo, somos
melhores pessoas quando levamos a
música dentro de nós. Por isso, quero-te
dizer: não sou apreciador de todos os tipos
de música, mas gosto de música Pop e a
música que gosto mais é a música do
meu tempo, como deves imaginar! Música
dos anos 70, anos 80...
O que faz, no dia-a-dia, em relação ao
ambiente?
O ambiente está dependente daquilo que
cada um, individualmente, possa fazer.
Todos nós temos, no dia-a-dia,
responsabilidades sobre as questões
ambientais. Agora eu, como Presidente da
Câmara, tenho responsabilidades maiores.
Porquê? Porque a C.M. tem muito a ver
com o bom, ou mau, ambiente que
temos. Ou seja, nós temos que ter
preocupações com a água: a água que
temos na nossa torneira, que bebemos,
tem de ser uma água boa e a C.M. tem responsabilidades na gestão da
água. As nossas ruas têm que estar
limpas, senão temos micróbios. Temos
que fazer uma boa recolha de lixo para
termos um bom ambiente urbano.
Quando vamos para os campos, não
pode haver detritos, entulhos, plásticos...
A nossa paisagem urbana e a nossa
biodiversidade é tanto mais saudável,
quanto melhores forem as nossas práticas
ambientais. Vocês sabem, nós estamos no
Parque Natural da Serra de São Mamede,
e portanto temos a obrigação maior de
contribuir para um bom ambiente,
porque temos, na fauna e na flora, um
valor excecional. Para que essas espécies de animais e plantas
cheguem aos vossos filhos, cheguem aos
vossos netos, temos de preservar o
ambiente.
Qual é a sua cor favorita?
Gosto muito do arco-íris, gosto muito das
cores do arco-íris.
Tem ajudantes?
Tenho, felizmente! Tenho bons ajudantes!
Castelo de Vide pode orgulhar-se de ter
gente que quer muito bem a Castelo de
Vide e são essas pessoas que trabalham
comigo todos os dias, felizmente! Eu só
consigo ir mais longe naquilo que faço
porque tenho pessoas ao meu lado que me
ajudam.
Porque é que me ajudam? Porque querem
o melhor para Castelo de Vide. Hoje estou
cá eu, amanhã estará outra pessoa. Mas
essas pessoas são imprescindíveis para
podermos ir mais longe. É um trabalho de
equipa: o rosto mais visível é o meu, eles
são mais anónimos, estão mais na
retaguarda mas existem para bem do
desenvolvimento do nosso concelho.
Qual é a sua disciplina favorita?
Esta história do melhor, o favorito, é sempre
muito difícil... Era Arqueologia, porque era
do meu curso. E agora pergunto-te: sabes o
que é a arqueologia? A arqueologia é uma
ciência que estuda o passado, as coisas
antigas.